Cláudio Fonseca
Para D. Hermes da Fonseca
As grevas se iluminam ao sol do meio-dia.
Rubros, saem da névoa os corpos retalhados,
lâminas quebradas gotejando trevas
sob o olhar de tédio dos cavalos.
Fúrias que se ocultam em rosto vário
deixam nesta hora o plano imenso.
Quando, nos punhais, serão gravados
nossos nomes, nossa hora, em silêncio?
No trio, em silêncio, um vulto chega.
A mortalha em farrapos sobe ao vento. Esse encarne
do Amor (que nos corpos apodrece) chora
a carne em solidão - o negro templo.
Abre a multidão, caída, sob o férreo sol
da estação de Tebas. A brutal cidade
hoje uma chaga aberta
numa entorpecida América selvagem.
Como um cão divino, transparente e grave
passa a grande sombra sobre o fio das facas.
Não purificou, o Tempo, a sua arca
de agonias, de miséria e sangue.
O meio-dia tange a lágrima de bronze
sobre bondes e pedreiros e peões cansados
e garis suados. Pai, é teu cadáver
que Antígona levanta em seus braços.