Amigos do Fingidor

sábado, 6 de novembro de 2010

Poesia em tradução

O Junco e o cipreste
D. Guillermo Gana
(datas desconhecidas)




Ao lúgubre cipreste em voz plangente
O junco melancólico dizia:
– Que triste sorte a minha!
Ergui-me tão alegre e tão contente
            Quando a alvorada vinha!

E já sem força e já sem energia
Curvo a cabeça... E lânguido e sozinho
Sinto que vou morrer. Ah! por que a sorte
Dando-te vida, só me guarda morte?

            E o cipreste dizia:
– A dor foi sempre eterna,
Mas a fortuna só perdura um dia!

            E o junco respondia:
Em ti simbolizaram a tristeza,
Em mim somente o anelo
            Dos que no amor esperam.
Como é que nunca dobras a cabeça,
Nem a raiva das chuvas e dos ventos
            A cor sequer te alteram?

Daqueles que de tudo desesperam
Para lembrar a lúgubre aflição,
Só existe uma cor, disse o cipreste...
            E se jamais tu viste
Curvar minha folhagem para o chão...
É que desprezo o mundo baixo e triste
E mergulho a cabeça n’amplidão.


(Trad. Castro Alves)