Amigos do Fingidor

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

Estante do tempo

A medida do azul
Ernesto Penafort (1936-1992)




A medida do azul é o estender-se
do olhar por sobre os seres. Esse arguto
perceber que se tem de não mover-se
o objeto – já por ser absoluto.
A medida do azul é ver um luto
contido em toda flor e o abster-se
cada qual de assumir seu tom enxuto
e noutro que o não seu absorver-se.
A medida do azul, pelo contrário,
não é ver no horizonte o fim do olhar,
mas o ter desta vida aonde chegar,
pois ali tem o mundo o seu ovário:
e o retorno acontece, sempre estável,
eis que o azul é o início do infindável.