Amigos do Fingidor

quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

O rio comanda a vida

Aldisio Filgueiras

ímpetos sexuais
aríete
de coisas diluídas

o rio traz nos dentes
as rédeas
de nossas vidas

e sob o tropel
de seus ásperos cascos

liquefeita
em cópias
de figuras trágicas

a presença inócua
e dúbia
de nossos corpos o rio des-governa
quase impossível
regime
de forças hidráulicas

apenas usadas
por lisos cardumes
de peixes argutos
em ciranda elétrica

o rio põe e dispõe
que
manhas e tramas
tem esse rio
e orgulho de senhor

por exemplo

risca funda fronteira
e aliena
seu feudo do mundo
em líquido
estado de sítio

e pênis raivando
de ímpetos sexuais
– aríete
de coisas diluídas –
o rio traz nos dentes
as rédeas
de nossas vidas