Amigos do Fingidor

domingo, 6 de fevereiro de 2011

Minha pátria é minha língua

Se acaso uma alma se fotografasse
Euclides da Cunha (1866-1909)





Se acaso uma alma se fotografasse
De modo que nos mesmos negativos
A mesma luz pusesse em traços vivos
O nosso coração e a nossa face;

E os nossos ideais, e os mais cativos
De nossos sonhos... Se a emoção que nasce
Em nós, também nas chapas se gravasse
Mesmo em ligeiros traços fugitivos.

Poeta! tu terias com certeza
A mais completa e insólita surpresa
Notando, deste grupo bem no meio,

Que o mais belo, o mais forte e o mais ardente
Destes sujeitos, é precisamente
O mais triste, o mais pálido e o mais feio...


[Manaus, 2 de fevereiro de 1905]

(Este poema foi escrito sobre uma fotografia, onde Euclides posa com o grupo de trabalho que iria explorar o rio Javari. O poema tem pelo menos quatro versões, com sutis variantes. Escolhemos a que foi remetida a Rodrigo Octavio, diretor da revista Renascença, que o publicou, juntamente com a foto, em 1906.)