Rio de sono
Ernesto Penafort (1936-1992)
este é um rio de sono,
senhora.
este é um rio sem barcos
e tem toda feita em arcos
sua submersa flora.
pois este mesmo rio,
senhora,
que além de ser de sono
e sentir-se inavegável
(como se fosse de outono
sua eterna bruma de cobre)
é também um rio nobre.
inobstante ser pobre
de qualquer navegação,
pulsa nele, quando cai,
o dia, no fim do olhar,
o sol – seu coração.